segunda-feira, maio 23, 2011

Entrevista com J. Bosco, Chargista de O Liberal



J. Bosco Jacob é caricaturista, ilustrador, cartunista e chargista do jornal O Liberal há 23 anos. Bosco, possui vários prêmios nacionais e internacionais. Com trabalhos publicados nas revistas Veja, Você SA, Semana, Imprensa, Focus, revista Francesa Le Monde Magazine. Livros didáticos das editoras Scipione, Saraiva,Moderna, ÁTICA e FTD. Uma pessoa gente boa e muito bem humorado.  




T. R: Qual a importância da charge no jornal impresso atualmente?
J.Bosco - Desde o começo da imprensa no Brasil que a charge sempre teve seu papel preponderante. Na época do império a charge era uma das armas contra a corrupção no regime monárquico. D.Pedro I e II tiveram seus registros.
Hoje não mudou nada este cenário, e os chargistas continuam a registrar nossa história através das charges. Sua importância e seu crescimento estão conduzindo hoje um tipo de leitor mais exigente e mais crítico. Com esse avanço alguns jornais deram certo destaque para as charges na 1ª página. Outros jornais contratam mais de um chargista. A Folha de São Paulo tem 3 chargista, isso mostra a força e a rapidez do texto visual editorial.
T. R: Em sua opinião a charge pode influenciar os leitores?
 J.Bosco: - Sem sombra de dúvida, somos fazedores de opinião. Em tempos de eleição, os candidatos e seus assessores ficam de olho aberto nos chargistas...rsss. Qualquer recado crítico em uma charge envolvendo um candidato vem logo a pergunta: "esse chargista é partidário daquele candidato?"... e se você insistir em denunciar os escândalos envolvendo um político, você passa a ser o alvo do "leitor" partidário daquele candidato. Então, essa força da charge já deu muitos processos e demissões, por envolver o leitor dos interesses particulares. Nesse caso o chargista precisa do respaldo do jornal pra não atacar gratuitamente aquele político. Afinal nada é inventado, tudo é retratado como notícia através da crítica e do humor.

T. R: O processo de escolha das charges do dia, passa pelo mesmo processo editorial das matérias?
J.Bosco - Não necessariamente, o chargista bem “antenado” tem suas próprias pautas. Ele tem um modelo de criação de fatos que bem cedo a internet e os telejornais mostram.A charge imediatista perde um pouco a rapidez, evita que o cartunista use três assuntos, apenas aquele que todo mundo passou perto da TV e se ligou. Fica uma charge pobre, parece que fica sempre faltando a outra leitura, exemplo são as charges de futebol, que o povão não precisa raciocinar pra entender a ligação dos outros assuntos, ele quer a "porrada" direta e pronto, pra fazer gozação com o torcedor adversário. Eu costumo fazer charge com dois ou três assuntos, pra dar uma riqueza maior ao trabalho.

T. R: O local reservado para as charges dentro do impresso obedece algum estudo anterior para que ela tenha mais visibilidade?
J.Bosco - Todos os jornais usam a charge na página de opinião, às vezes na 2ª ou 4ª página. É lá seu lugar mais certo, ao lado dos artigos. Não gosto de charges na capa, ela briga e atrapalha as fotos. Quanto a visibilidade o autor que tem que transformá-la numa grande vitrine, do contrário ele será desprestigiado.


T. R: Você tem autonomia para a escolha e produção das charges?
J.Bosco - Totalmente, conquistei esse prestígio ganhando vários salões de humor no Brasil e no Mundo.Quando entrei no jornal O Liberal a linha editorial era conservadora, não se falava de charge apenas em reprodução das mesmas charges do Globro, do Chico Caruso, quando fui contratado já tinha uma bagagem em cartum e charges na Aprovíncia do Pará em 1988.Sempre estive ligado nas charges que saiam no nanico Pasquim, sou dessa geração.Sei como construir uma charge que agrade gregos e troianos..rsss
Uso um traço simples e expressivo, o mais importante dela é o resultado da mensagem, a opinião, o embelezamento do desenho acaba desfocando a crítica, quanto mais simples e engajada seu poder de fogo fica muito maior.
T. R: Qual a importância da associação da charge com a matéria principal da edição do dia?
J.Bosco - Nem sempre isso é importante, como já falei do imediatismo atrapalhando assuntos mais engraçados e que podem ser mesclados para o enriquecimento dela. A matéria principal nem toda vez gera uma grande charge, se o chargista seguir essa regra ele vai deixar de abordar outros assuntos que poderiam render o entendimento do leitor mais rápido.Assuntos de ontem, hoje fica mais cravado para o leitor, claro que ele precisa usar essa técnica na hora certa.O Angeli faz isso com muita genialidade e é por isso, que se tornou o melhor do Brasil, sempre usando um perfil comportamental nas charges, ele não desenha políticos bonitos, todos ficam caricatos feios e engraçados.


T. R: Qual a editoria mais trabalhada e o tema mais recorrente e polêmico?
J.Bosco - Os assuntos importantes hoje nos jornais são política e economia, no meio deles você vai encontrar os escândalos, matéria prima para os chargistas.
Os desastres,guerras,terrorismo,acidentes,mortes,são assuntos delicados e que o chargista precisa de cautela pra não ferir na hora de retratar a desgraceira.É melhor deixar que a Tv, mídia favorável ao caos de encarregue das imagens escabrosas...rss.quando uma charge vem com aquela imagem da "Morte", o leitor se sente ofendido com aquele desenho de mal gosto e começa mandar emails dizendo que o cartunista foi indelicado, usando humor negro, essas coisas...rss

3 comentários:

  1. Parabéns pelo blog, meninas!

    Ótimo conteúdo, continuem assim xD

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  2. gente boa! conheço desde dos 16 anos da época do PQP.

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  3. ADOOOOOOOOOOOOOOOOORO! Ficou muito massa o blog de v6. Parabéns!

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